segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ratinho de laboratório

Quando pequeno, pequeno Klaus (era dos menores, mesmo) tinha uma bicicleta vermelha. Minúscula. Lembra vagamente quando, pela primeira vez, equilibrou-se nela, sem rodinhas e a segurança dos braços da mãe (ou do pai?) dera vez à inesperada liberdade. Seguida de um tombo, claro. Sobre a grama fofa.

Lembra bem, quando ganhou sua nova bicicleta, tamanho médio. Na realidade uma ¨reciclagem¨ da Caloi de primos mais velhos. Andou no barro, sujou uniformes, rasgou uniformes na altura do joelho, rasgou o joelho na altura do queixo. Caiu de um precipícios de 1 metro, de cara no tijolo e só fez um cortezinho. Escorregou, quase parado sobre casacalho solto, e esfolou a coxa inteira.

Barbeiro, o pequeno Klaus cresceu. Devagar, mas cresceu. Ganhou uma bike de 18 marchas, câmbio shimano, pneu ¨slick¨, transformada em sinônimo de sua liberdade. Programa predileto: ir ao mercado e voltar com uma lata de coca pendurada na sacola do lado direito do guidon (mão direita segurando a alça e o freio) e, na outra mão, uma casquinha, com cada vez menos bola de napolitano, que se dissolvia com o vento quente e secava no uniforme branco do colégio. Sua mãe odiava a bicicleta.

Aulas à tarde? Ia de bike. Jogo à noite? Ia de ¨bici¨. Festinha? Bom, aí pegava uma carona. Da perna de flamingo até que brotavam alguns músculos, que lhe alimentavam um pouco o pequeno ego costumeiramente desinflado.

O ciclista... Ou melhor, o bicileteiro Klaus viu o assassinato sumário de sua pedalada rotineira quando passou no vestibular. Sonhava, em meio às teorias da comunicação, como poderia trazer a bike para a cidade ¨grande¨, onde guardá-la, onde prendê-la, como não vê-la furtada? Trocou-a por um fusca.

Barbeiro, o pequeno Klaus bateu o fusca, mas nunca mais matou a vontade de pedalar. Jornalista formado, sua nova manchete seria: ¨Aposentado, Klaus pretende dar a pedalada de despedida pela seleção¨. Pança para tanto, já tinha. Arriscou algumas voltas pelas colônias do distrito, mas o pique esvaiu-se novamente pelos aros.

Foi à academia e chegou a fazer spinning, aquela loucura em forma de aula aeróbica, que quando não infarta, mata do coração.

Vez ou outra tomava coragem, pegava sua bike, empurrava-a por um quilômetro até o posto de combustível, inflava-lhe os pneus ressecados, saía pedalando a idosa magrela rangente e desistia no terceiro dia.

Era custoso, pensava, chegar do trabalho, trocar de roupa, pegar a bike, sair pedalando, cumprimentar conhecidos e, o pior de tudo: ainda encarar o caminho de volta!!!

Até que teve uma idéia genial.

Pesquisou, informou-se, pediu a opinião de próximos e decidiu: vai comprar uma bicicleta ergométrica. Sim, um luxuoso cabideiro. No qual é possível sentar-se de sapato, calça jeans, camisa, tirar o celular do bolso, botar uma musica qualquer e pedalar 15 a 20 minutos (ou até cansar). Não precisa cumprimentar ninguém, não precisa se preparar, não precisa inflar pneu e, o melhor de tudo: não precisa fazer o caminho de volta!!!

O teimoso Klaus voltou a pedalar. Colocou a ergométrica de frente para uma janela e o reflexo logo lhe permitiu uma bela conclusão. Pedalando freneticamente, com a bunda empinada, pra cima e pra baixo, com a língua de fora, finalmente o ex-pequeno, o ex-barbeiro, o ex-atleta, o ex-vagabundo, virou: um hamster!!!

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